sábado, março 13

Da argila ao pote

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Sofremos da síndrome do potinho. Se, ao invés de humanos, nascêssemos como potes de argila dotados de mente, pensaríamos mais ou menos assim: "sou um ínfimo potinho, vulnerável, esquecido numa prateleira qualquer da cozinha, muito inferior aos outros potes que existem na casa".
O que não sabemos é que os demais potes, por maiores e enfeitados que sejam, também se sentem muitas vezes inferiores a outros potes. Também se acham mofados e esquecidos no porão daquela casa onde os donos vivem viajando.
Pensamos que somos um pobre potinho e queremos ser o outro, maior, mais decorado e atraente. Queremos ter a forma do outro, a função do outro, o design do outro. Morremos de medo de cair da prateleira e quebrar. Ou pior, de sermos esquecidos ou jogados fora...
Vivemos com medo porque não sabemos que antes de sermos pote, somos argila. Apenas estamos, transitoriamente, na forma de pote. Como potes, nos sentimos limitados. Mas, se quebrarmos, continuaremos a ser argila. Portanto, não há nada a temer.
O pote está para a argila assim como o corpomente está para o Ser. Por conta da ignorância existencial, confundimos o corpomente, com todas as suas limitações e dificuldades, com o Ser que somos, e acabamos por atribuir ao Ser, que é intrinsecamente ilimtado e pleno, as limitações inerentes ao corpomente.
E não devemos querer ser mais do que argila porque a argila é perfeita em si mesma. Ela é o Todo! Nós já somos as pessoas que queremos ser, perfeitas dentro das nossas imperfeições. Porque o nascimento em si já é um big bang. Já é uma forma perfeita nesta ordem chamada Universo.
Cada dia de nossa vida é um milagre. Cada pensamento, cada palavra, cada gesto, faz parte desta ordem. Faz parte deste Ser. Nosso dharma é agir, disto não podemos fugir. Nosso svadharma é compreender aquilo que é correto fazer na vida, a cada momento.
Mas que seja por escolha e nunca por falta de opção, porque somos importantes demais para vivermos de forma mecânica e sem sentido. É preciso achar o sentido das coisas. Mesmo daquelas que, aparentemente, sejam simples e sem importância.
Não estamos sozinhos nunca porque fazemos parte desta ordem chamada Ishvara. Nascemos por uma complexa combinação de punya e papa, méritos e deméritos. Existe uma razão. Portanto, não precisamos desperdiçar as nossas vidas, ou descartá-las como se elas não tivessem valor.
Elas fazem todo o sentido do mundo. E como somos interligados, como as ondas que fazem parte do mesmo mar, cada gesto importa, e muito. Cada palavra, cada pensamento faz toda a diferença. Tudo o que eu fizer, e ainda o que deixar de fazer, reflete-se na ordem. Portanto, ao invés de lamentar pelo que não temos, devemos nos centrar em apreciar aquilo que temos.
Neste momento, agora, ser feliz agora, sabendo que o que tenho é aquilo que me cabe naquele determinado momento e não precisa ser diferente, já que a ordem é justa e adequada, sempre.
Devemos tirar as amarras, as cordas que fazem com que sejamos como o elefante que pensa que a frágil corda que o segura desde pequeno é capaz de detê-lo quando grande. Ou como a águia que foi criada como galinha e ignorava que seu dharma era voar.
Algo que une os humanos é a procura pela felicidade, pela libertação dos condicionamentos. Por nos livrar desse complexos de potinho, desse sentimento de insignificância, dessa ideia de sermos limitados. De nos livrar de nossas amarras e viver, finalmente, cada dia como uma obra de arte, dando pequenas pinceladas, errando e tentando de novo, descobrindo novos acordes, surfando ondas diferentes, sendo pessoas melhores.
Sendo melhores amigos, pais, filhos, irmãos. Sendo, de fato, um reflexo desta ordem maravilhosa na qual fazemos parte. Somos tão perfeitos como as ondas do mar. Somos completos e plenos como a Natureza. Somos livres como os pássaros e auto-efulgentes como o Sol, que brilha com luz própria. Apenas estávamos esquecidos disso.
Tirando a plenitude da plenitudeResta apenas plenitude...
Harih Om!
Fonte: Tereza Freire/ site Yoga pro



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