sábado, junho 26

Saudades de Deus


Encontrei um homem com saudades de Deus. Um dia Deus foi importante em sua vida. Ocupava o primeiro lugar em sua existência. Tudo estava em ordem. Havia paz em seu coração. Paz, fruto de uma vida legal com o próximo e com Deus.
Ontem encontrei este mesmo homem.
O tempo passou. O tempo deu-lhe mais diplomas, mais habilidades profissionais, mais dinheiro, mais fama, mais gente querendo o seu trabalho, deu-lhe tanta coisa mais e tirou-lhe o essencial. Tirou-lhe a alegria de viver, o gosto de viver. Seus olhos diziam que algo lhe faltava. Suas palavras expressavam ansiedade. Suas mãos trêmulas refletiam conflitos, tensões de idéias e emoções, que o feriam dentro de si.
Eis, um homem, pisando o presente e vivendo voltado para o passado.
Há em cada um de nós um paraiso perdido, ou melhor, um paraiso a conquistar. Há em cada um de nós um Deus perdido, ou um Deus a conquistar. Não há maior saudade em nós do que a saudade de Deus. Saudade que se manifesta, que se expressa através da angústia, do vazio sem explicação, da sede da paz, da criança que sorri dentro da gente, da forma da pureza perdida. Encontrei um homem nessa situação.
Há um fila enorme de pessoas com saudades de Deus. Que as boates o confirmem, que o álcool o diga, que os gabinetes de psicanálise e psiquiatria o falem, que as doenças neuróticas o proclamem. na agitação de todos os dias, na falta de tempo para o mais necessário para o único necessário, na luta do dia a dia para alimentar o corpo, para a sobrevivência, surgem pequenas luzes de nostalgia, pequenos raios de saudades de alguém que jamais se deixa por esquecido. Porém nada resolve permanecer na saudade de Deus. Deus é para ser vivido no agora e no sempre.

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